​Crítica – Clair Obscur: Expedition 33: Um RPG pintado com emoção, arte e profundidade
É raro encontrar um jogo que nos faça parar e pensar não apenas sobre o que estamos jogando, mas por que estamos jogando. Clair Obscur: Expedition 33, da Sandfall Interactive, é exatamente esse tipo de obra. Um RPG ousado, poético e profundamente tocante, que mistura sistemas clássicos com uma estética inspirada em obras impressionistas — e sai disso tudo não apenas ileso, mas elevado.
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Logo de cara, é impossível não se impressionar com a direção de arte. Ambientado na cidade fictícia de Lumière, o jogo nos transporta para uma Paris onírica da Belle Époque, onde luz e sombra, literalmente, moldam a narrativa. Os cenários parecem pinturas em movimento, com pinceladas suaves e um uso dramático da cor que reforça o clima melancólico da trama. A estética de Clair Obscur não é apenas bela: ela é parte da história, da mecânica e do mundo.
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No centro da narrativa está Gustave, um membro da 33ª expedição que tem como missão acabar com o ciclo mortal conhecido como Gommage — um ritual realizado anualmente pela misteriosa Paintress, que faz com que qualquer pessoa com 33 anos desapareça da existência. É uma premissa potente e simbólica, que fala sobre finitude, legado e o medo do esquecimento. A construção de mundo é sutil e eficaz: nada é expositivo demais, e os mistérios se desdobram em ritmo perfeito.
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Se a narrativa emociona, o sistema de combate surpreende. A Sandfall pegou a fórmula tradicional dos RPGs por turnos e deu a ela uma camada interativa — algo entre Final Fantasy X e Paper Mario. Aqui, bloquear ou esquivar exige precisão, e os contra-ataques dependem do seu timing. O resultado são batalhas desafiadoras e envolventes, onde o jogador não é apenas um espectador, mas parte ativa da dança tática.
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A trilha sonora também merece destaque. Composta por Lorien Testard e cantada por Alice Duport-Percier, a música do jogo é melancólica e poderosa, um reflexo da atmosfera do mundo. Não à toa, a trilha viralizou nas plataformas de streaming — ela é tão boa que funciona mesmo fora do contexto do jogo.
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Desde seu lançamento em abril de 2025, Clair Obscur: Expedition 33 tem sido aclamado por público e crítica. Em apenas 33 dias, vendeu 3,3 milhões de cópias, e alcançou impressionantes 92/100 no Metacritic. Diante de um cenário saturado por remakes e sequências previsíveis, esse título é um fôlego artístico e narrativo.
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Com o sucesso, já foi anunciada uma adaptação cinematográfica produzida pela Story Kitchen (de Sonic the Hedgehog), e embora adaptar 45 horas de profundidade emocional e visual em duas seja um desafio imenso, é uma prova de como o jogo tocou o público em um nível raro.