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The Alters: um jogo sobre clones, escolhas e o peso de ser você mesmo

  • Foto do escritor: Gustavo S.
    Gustavo S.
  • 18 de jun.
  • 3 min de leitura

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The Alters, novo título da 11 bit studios (os mesmos criadores dos sombrios This War of Mine e Frostpunk), é uma das experiências mais curiosas e existencialistas que já vi no gênero de sobrevivência. Sim, você constrói uma base, coleta recursos e corre contra o tempo num planeta hostil — mas o que torna o jogo especial é o que ele pergunta o tempo todo: E se você tivesse feito outra escolha? Seria alguém melhor? Ou pior?

Essa é a essência do jogo, que coloca você no controle de Jan Dolski, um operário solitário preso em um planeta alienígena após um acidente. Com apenas uma base móvel à disposição e um sol radioativo prestes a fritar tudo, Jan descobre uma maneira desesperada de sobreviver: criar “Alters” — versões alternativas de si mesmo, baseadas em decisões de vida que ele não tomou.


Uma ideia brilhante (e perturbadora)

A mecânica central de The Alters é tão simples quanto poderosa: cada clone tem uma profissão (médico, engenheiro, botânico, cozinheiro...) e uma personalidade diferente, dependendo das escolhas que “aquele Jan” fez no passado. Isso significa que você não está apenas gerenciando trabalhadores — está lidando com cópias suas que lembram, questionam e até ressentem as decisões da sua “versão principal”.

É como jogar um simulador de sobrevivência com carga emocional e filosófica. Os Alters conversam entre si, discutem sobre a própria existência e às vezes entram em crise. Não basta manter os recursos funcionando: é preciso cuidar da saúde mental da sua equipe — que, por sinal, é literalmente você mesmo.


Jogabilidade entre o prático e o poético

A jogabilidade alterna entre a gestão da base (que lembra um Fallout Shelter mais denso) e segmentos em terceira pessoa de exploração e narrativa. Há tensão: o tempo é um inimigo constante, e uma decisão errada pode levar à morte de um Alter — ou ao colapso emocional da base inteira. Há também cenas tocantes e até surreais, como um funeral para uma ovelha clonada que, pasme, emociona.

Apesar da profundidade, o ritmo às vezes patina. Alguns momentos narrativos quebram o fluxo com longas falas e andanças contemplativas que podem lembrar um walking simulator. Não é um problema para quem busca imersão narrativa, mas pode frustrar quem quer ação constante.


Atmosfera que prende (mas nem sempre deslumbra)

Visualmente, The Alters tem uma direção artística forte. A base é claustrofóbica e funcional, o planeta alienígena é estranho o suficiente para gerar desconforto, e as anomalias temporais criam efeitos visuais interessantes. Ainda assim, há momentos em que a qualidade das animações e das expressões faciais deixa a desejar — especialmente nos diálogos mais dramáticos, que às vezes soam mecanizados.

A trilha sonora, por outro lado, acerta no tom melancólico e introspectivo, reforçando o peso emocional da jornada de Jan (ou melhor, de vários Jans).


Identidade, ética e humanidade

O maior trunfo de The Alters é que, no fim das contas, ele não é só sobre sobrevivência. É um jogo sobre identidade, arrependimento e as consequências das nossas escolhas — ou da falta delas. A relação entre Jan e seus Alters pode ser de apoio mútuo, desconfiança, ou até confrontação direta. E o mais perturbador: todos eles são você.

O jogo te força a perguntar o tempo todo: o que teria acontecido se você tivesse feito outra faculdade? Seguido outro amor? Fugido em vez de ficar? Teria sido feliz — ou apenas outra versão frustrada, mas com um crachá diferente?


Veredito

The Alters é um jogo ousado, emocionalmente denso e narrativamente instigante. Ele desafia não só suas habilidades de gestão, mas também sua empatia, sua curiosidade e até sua ética pessoal. Não é um jogo perfeito — o ritmo vacila, e a técnica nem sempre acompanha a ambição — mas é uma experiência única, que fica com você muito depois de encerrar a sessão.


Nota: 8,5/10

Se você gosta de jogos que mexem com a cabeça e o coração, The Alters é obrigatório. Às vezes, o maior inimigo não é o ambiente hostil — é você mesmo. E suas outras versões podem ter algo a dizer sobre isso.

 
 
 

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