The Last of Us: uma adaptação que honra o jogo e emociona até quem nunca pegou no controle
- Gustavo S.
- 18 de jun.
- 3 min de leitura

Adaptar videogames para as telas sempre foi um desafio — e quase sempre uma decepção. Mas The Last of Us, série da HBO baseada no aclamado jogo da Naughty Dog, não só quebrou essa maldição como se firmou como um dos dramas televisivos mais impactantes dos últimos anos. Sob o comando de Craig Mazin (Chernobyl) e do próprio criador do jogo, Neil Druckmann, a série entrega uma história que vai além do apocalipse zumbi: é sobre perda, afeto e o que significa ser humano quando o mundo já não é.
Um mundo devastado com detalhes e poesia
Desde o primeiro episódio, fica claro o cuidado visual e emocional da produção. A ambientação do mundo pós-pandêmico é crua, realista e inquietante. Não há exagero. Os cenários abandonados, a vegetação engolindo a civilização, os infectados grotescos — tudo é construído com uma verossimilhança que não grita “espetáculo”, mas sim “possível”. A trilha sonora de Gustavo Santaolalla, reaproveitada do jogo, costura a narrativa com delicadeza e peso.
Mesmo os momentos mais tensos não recorrem à ação vazia. O terror aqui é psicológico, humano, e os sustos vêm mais da solidão e do luto do que das criaturas. Em alguns episódios, o ritmo desacelera — e, embora isso tenha incomodado parte do público, essa respiração é o que torna The Last of Us mais profundo que a média das séries apocalípticas.
Dupla central de tirar o fôlego
Pedro Pascal e Bella Ramsey são o coração da série. Pascal entrega um Joel calejado, quebrado, mas ainda humano. Em cada olhar cansado, em cada silêncio, há dor contida e uma sensibilidade que não existia em muitos anti-heróis da TV nos últimos anos. Já Ramsey, que sofreu desconfiança inicial por parte de alguns fãs do jogo, simplesmente é Ellie. Seu sarcasmo, sua dor, sua fúria e sua esperança transbordam em cada cena.
A relação entre os dois se constrói lentamente, como no jogo, e culmina em momentos de verdadeira emoção. Quando Joel começa a ver Ellie como sua filha, e Ellie começa a enxergar Joel como mais do que um guardião, a série alcança seu auge emocional.
Episódio 3: um capítulo à parte
É impossível falar da série sem destacar o episódio 3 — centrado em Bill e Frank, interpretados por Nick Offerman e Murray Bartlett. Em vez de ação, o episódio oferece uma história de amor sensível, singela e profundamente tocante. Em uma hora, a série constrói um relacionamento inteiro que muitos filmes levariam duas horas para contar — e poucos fariam tão bem. Foi um dos momentos mais aclamados da temporada, e com razão.
Pontos que dividem opiniões
Apesar dos muitos acertos, The Last of Us não escapou de críticas. Algumas pessoas acharam o ritmo irregular, especialmente em episódios que se afastavam da trama principal para explorar flashbacks ou histórias paralelas. Também houve quem esperasse mais ação e mais infectados — e, de fato, eles aparecem menos do que em outras obras do gênero.
Outro ponto de polêmica (mais evidente na segunda temporada, já confirmada e em andamento) é a fidelidade extrema a certos eventos do jogo, o que gerou debates intensos entre fãs — especialmente por decisões narrativas ousadas que desafiam as expectativas.
Veredito:
The Last of Us é mais do que uma adaptação bem-feita. É uma obra sensível, dolorosa e extremamente bem escrita, que entende que, num mundo devastado, o que realmente importa são os laços que ainda conseguimos formar. Com atuações impecáveis, direção cuidadosa e respeito à sua origem, a série mostra que videogames podem sim render grandes histórias — desde que contadas com coração.
Nota: 9/10
Vale cada minuto, com ou sem joystick na mão. Prepare-se para chorar, refletir — e talvez nunca mais olhar para um cogumelo do mesmo jeito.
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